segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

o uso da madeira na arquitetura: histórico

A madeira sempre se revelou um material nobre e rico em sugestões: sua utilização como matéria-prima na construção de habitações é uma constante na historia da arquitetura.
No Brasil, as habitações indígenas são os primeiros exemplos do emprego desse material na arquitetura. Apesar de primitivas e rústicas, atendiam perfeitamente às necessidades de seus usuários e às exigências climáticas.
A chegada dos colonizadores veio alterar o processo de utilização da madeira na construção. A divisão de espaços e as técnicas construtivas passaram a responder a tradições culturais diferenciadas.
No período colonial, algumas casas eram construídas em alvenaria de pedra, possuindo divisórias internas em pau-à-pique - processo construtivo no qual se associa a madeira, como elemento estrutural, e o barro amassado, como vedação. Nas casas mais simples essa técnica construtiva era empregada em toda a edificação. Entretanto, as estruturas complementares - telhados, requadro e fechamento de vãos, assoalhos e varandas - eram geralmente executados em madeira.
A evolução das técnicas construtivas no Brasil ocorreu em função das características do material predominante em cada região. Assim, a alvenaria de pedra e cal caracterizou as construções no litoral, enquanto a taipa de pilão predominava no planalto paulista e o pau-à-pique em Minas Gerais.
Na segunda metade do século XIX, desenvolveu-se no Brasil uma política de colonização que visava incentivar a vinda de imigrantes europeus. Facilitando a propriedade de terra aos estrangeiros, pretendia-se ocupar os grandes vazios demográficos, considerados uma ameaça ao domínio e controle do território.
Ao final do século XIX, um segundo motivo vem juntar-se ao anterior, reforçando o interesse pelos projetos de colonização. A intensificação do movimento abolicionista tornou urgente a substituição da mão-de-obra escrava, especialmente nas lavouras de café do interior de São Paulo.
No que se refere ao Paraná, até o início do século XIX, a população era basicamente constituída por tropeiros e mineradores, configurando um contingente populacional diminuto e disperso.
À partir de 1853, o presidente da Província do Paraná, Adolpho Lamenha Lins, pretendendo uma maior ocupação do território, adotou uma política de estímulo a pequenos proprietários, fixando os imigrantes europeus recém-chegados em pequenas porções de terra. Formaram-se, assim, colônias no litoral e arredores de Curitiba.
As atividades econômicas então predominantes na região eram a extração de erva-mate e o comércio de gado com o Rio Grande do Sul, sendo reduzida a produção agrícola, principalmente a de alimentos.
A necessidade de mão-de-obra para a agricultura - agravada após a abolição da escravatura - aliada à similitude climática com a terra de origem atraiu grande contingente de imigrantes para o Paraná, em especial os alemães, italianos e poloneses.
A diversidade cultural dessa nova população trouxe modificações nas soluções arquitetônicas, evidenciadas pelo uso de diferentes técnicas e materiais de construção.
Os imigrantes alemães construíram suas casas com enxaiméis - estrutura de madeira com peças diagonais de travamento cujos intervalos são preenchidos por tijolos. Os poloneses e italianos, de origem camponesa, estabeleceram-se em colônias próximas às cidades. As casas dos imigrantes italianos eram construídas em alvenaria de tijolos. Os poloneses empregavam troncos de árvores sobrepostos horizontalmente, com encaixes nos cantos das paredes.
Ao final do século XIX, a intensificação e mecanização da exploração madeireira e a instalação de serrarias, principalmente no sul do país, onde a matéria-prima era abundante, permitiu a padronização de elementos construtivos e a difusão da arquitetura em madeira.
A casa de madeira tornou-se, então, tradicional nas paisagens paranaenses. Construída sobre pequenos pilares para evitar a umidade, esse tipo de casa possuía arcabouço formado por barrotes e vigas nos quais são pregadas tábuas verticais (evita acúmulo de umidade) com junções vedadas por ripas. A divisão interna original era simples, constando da sala, quartos e uma cozinha. O sótão, geralmente habitável, surgiu em função da forte inclinação dos telhados - tradição transplantada dos países europeus.
Gradativamente, a simplicidade inicial foi modificada pelo acréscimo de novos espaços e soluções criativas de acabamento. A utilização de peças de madeira padronizadas definia, entretanto, uma quase permanente dimensão de fachada - as ampliações ocorriam no sentido longitudinal.
As varandas aparecem, a princípio, como prolongamento da água dianteira do telhado. Posteriormente, passaram a apresentar localização variável, contornando duas das elevações principais ou destacando-se do restante da edificação, compondo uma volumetria distinta.
O arremate do telhado era feito com lambrequins, que, além de servirem como pingadeiras, e proteção ao beiral, constituíam-se em ricos elementos decorativos, dado o requinte de desenho que geralmente apresentavam.
A racionalidade e funcionalidade dessas habitações, associadas a um baixo custo de construção, garantiram a sua preferência por uma extensa faixa da população. Acrescida de espaços e ornamentos peculiares às famílias que as constroem, as casas de madeira passaram a ser expressão arquitetônica de uma tradição cultural.


Autor: Garcia, Fernanda Sanchez;Guernieri, Mariete S.; Pereira, Gislene de F. e Weihermann, Silvana
Titulo: Arquitetura em madeira : uma tradição paranaense
Publicado: Curitiba : Scientia et Labor, 1987.

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